Meu nome é Masina Pinheiro, tenho 35 anos - faço 36 daqui 4 dias mais ou menos. Falo do Rio de Janeiro, sou uma pessoa trans não-binária. Minha pesquisa na arte é sobre infância dissidente, sempre uso a frase “eu quero imaginar infâncias dissidentes livres”. Considero também que sou fotografe. Trabalho com arte-educação, ensino uma aula chamada “Círculo de Memória e Perversão” e tenho me aventurado em curadoria.
A pesquisa com infância - eu falo infância mas ela significa muito mais, né, ela aborda muitas outras coisas. Mas enquanto artista quase tudo que eu fiz me direciona à infância, tudo é extremamente autobiográfico e parece que tudo que aconteceu muito cedo foi determinante pra como eu amo ou odeio o meu corpo, pra como eu fotografo em si, pra como eu penso narrativa, como eu ando na rua, como eu me visto, enfim, às vezes pra vencer uma tendência que se enraizou numa violência cedo ou às vezes porque desde cedo eu soube que eu amava muito fortemente. Acho que desde bem pequene também eu sabia o que eu queria fazer, que é trabalhar com imagem, com audiovisual, isso muito sem referência também ou sem conhecer muito quem fazia a mesma coisa lá no início da década de 90. Eu acho que a infância também carrega uma indefinição muito mágica assim, quando a gente fala de identidade, infância, a gente tem uma liberdade muito grande, isso me fascina muito. A gente tá falando sobre relações sociais, não exatamente sobre um rótulo, sobre um caminho definido já cedo. Me vem muita emoção quando eu falo de infância. Acho que é por isso que eu pesquiso tão a fundo. Mas quando eu pesquiso ou ensino infância eu sempre começo nas coisas mais duras, difíceis em.. não é violência só, enfim, tanta coisa. Bom, acho que é isso, infância nasce ou então se estabelece pra mim como uma diretriz porque tudo que eu fiz que foi autobiográfico aconteceu na infância.
Vejo [como um processo de cura]. Eu acho inclusive que dentre os muitos tipos de legado que a experiência desobediente de gênero gera, um dos nossos legados é retroativo, é olhando para trás, sabe? É criar uma infância feliz hoje pra que infâncias do passado possam reviver as coisas. Me lembro muito nitidamente quando eu era bem pequene e eu tentava me desvencilhar dos xingamentos que faziam, mas os xingamentos diziam exatamente o que eu era e eu sabia que eu não podia aceitá-los. Começam eu qualquer coisa, “viado” ou qualquer coisa assim, perversão é a palavra central eu acho. Mas eu me lembro da necessidade de destrinchar as palavras e separar as coisas, de entender “vamos chamar de vulgar”, mas vamos chamar de vulgar porque o meu afeto é a imagem da própria perversão pra eles, né? Ao mesmo tempo eu me lembro “tá, eu posso ser vulgar, mas eu não sou repugnante”, eu tenho que entender quais palavras dos xingamentos eu vou aceitar pra minha vida e vou me apropriar e de quais eu vou me desfazer.
Lembro também de uma vez enquanto eu pensava sobre perversão, ter pensado que nós somos filhes da perversão e da perversidade, sabe? Nossa mãe e nosso pai. A mãe sendo a perversão e o pai sendo a perversidade. A perversão é aquilo de que nos acusam e a perversidade é aquilo que fazem com a gente, a maior parte de nossas infâncias dentro dessa sigla. Claro que muitas experiências são diferentes, mas a violência é um acometimento tão comum que a gente até naturaliza às vezes. Às vezes não tem como naturalizar porque é muito diretamente na pele, mas o psicológico fica muito precarizado. E essa perversidade a gente abomina, mas a perversão a gente acaba passando a performar, a exceder até, tipo “ah, vocês dizem que eu sou assim” - sei lá quais são as palavras que usam pra infância, usam qualquer coisa pra infância - “então agora eu vou passar a ser isso e vou ser muito mais do que isso, vou exceder essa palavra, eu vou ser a epítome da perversão”. A sensação é que eu vou me curar quando eu abraçar esse desdém alheio, quando eu entender que dentro do nojo deles existe um pedaço de verdade e eu quero performar esse nojo. Não sei explicar. Eu acho que eu tô sendo um pouco cruel comigo, mas eu falo isso de um lugar de carinho também, de amor. Várias palavras que eu tentei matar eu me vi mais tarde na vida tentando reanimar, tentando trazer de volta, falando: tá eu quero ser, eu quero finalmente fazer uma arte vulgar, eu quero trabalhar com o pornô, eu quero mostrar o que é sexo, já que o estupro é a arma favorita do mundo e foi dele que muita gente interrompeu tanta coisa. E fotografar o sexo, fotografar o afeto é como se a gente tivesse mais uma chance de reaprender o que é aquilo, por mais que na lembrança o toque seja difícil… enfim, relatos, sobrevivência disso.
Esses estereótipos que colocam na gente são as invenções que eles fizeram de nós. Mas agora a gente tem que se inventar também, sem medo de cristalizar qualquer coisa que eles imaginam. Eu não quero nem imaginar mais o que eles imaginam.
Eu reconheço o impasse que existe quando a gente fala de infância e quando a gente se reconhece como uma criança trans. Eu reconheço o impasse porque no final das contas nenhuma performance vai significar profundamente um gênero definido, sabe. A gente já entendeu que as coisas precisam e podem expandir na nossa compreensão. Mas o que aconteceu comigo acho que foi um pouco estranho. O que aconteceu comigo me fez pensar muito, mesmo durante a segunda infância e depois a quase pré-adolescência, adolescência. Primeiro que eu acho que eu nunca me reconheci dentro dos moldes cis apesar de não ter efetivamente pedido de ninguém o reconhecimento, não verbalmente assim. Quer dizer, tirando a minha mãe, pra quem eu disse que queria ser uma menina, e mesmo assim eu acho que eu era muito pequene e não sabia exatamente o que eu tava querendo dizer, ou talvez eu soubesse, nem me lembro direito mais. Mas o que aconteceu foi que o meu corpo dizia uma outra coisa, antes mesmo de eu até saber o que dizer, meu corpo me chamava de menina sabe, na rua as pessoas me diziam isso e aquilo me agradava num certo sentido, mas também me deixava com medo do que meu pai poderia achar, ou medo de ser encontrade na rua. Eu tinha medo de abrir a boca, de ouvirem minha voz, de verem meu cabelo, de saberem que eu não sou nada daquilo. Essa imensa indefinição foi muito parte do meu processo também da minha pré-adolescência já que eu não produzia os hormônios esperados, então eu não produzia os pelos e minha voz não pubercionava, e aí ela não engrossava, ela continuava aguda. E isso era um traço muito marcante da minha personalidade também, a voz fina. Eu percebia que as pessoas tinham receio de me chamar de menino, elas não sabiam o que fazer comigo na aula de educação física, não sabiam o que fazer comigo no geral, elas evitavam me chamar, elas sabiam que eu não iria responder porque eu não queria usar a voz. Sei lá, eu fui entrando em uma espécie de buraco e de silêncio, sabe? Eu falo também que eu vivi um legado muito grande de constrangimento. Eu achava que tudo que eu passava era extremamente ridículo, então eu tinha dificuldade de dizer às pessoas o que acontecia. Porque eu não via ninguém passando por uma coisa parecida, não perto de mim. Eu não tinha acesso também a pesquisas pra saber se em algum lugar longe, naquele imenso Orkut, existia uma outra pessoa que vivia a mesma coisa.
Depois, quando eu era adolescente, eu confundia as coisas, eu achava que ser andrógine era ser trans. E aí aquilo me atraía um pouquinho, mas ao mesmo tempo eu questionava aquilo o tempo inteiro. De toda forma, eu usava o meu Fotolog às vezes pra postar algumas selfies ou quase postar algumas fotos dos vestidos que eu usava e tal, com cabelo caindo assim pelo braço e peito. Eu não sei quando é que foi que eu entendi exatamente que eu não precisava estar em nenhum dos dois extremos, mas foi bem cedinho. E era estranho porque mesmo as pessoas que meio que me respeitavam, pelo menos na minha frente assim, no prédio que eu morava e tal, elas não sabiam o que fazer comigo. No meu prédio tinha muito menino hetero, todos eles amigos do meu irmão e por isso eles me tratavam mais ou menos bem. E aí eu lembro que eles jogavam RPG e quando eu ia brincar de RPG com eles eu colocava um nome feminino e tal, era sempre uma coisa meio “maga”. E todo mundo já esperava isso de mim… Ai, eu não sei explicar não, é muito complicado explicar. Não sei nem o que eles esperavam, se eles não pensavam em nada também. Muito estranho. Eu considero que eu fui uma criança trans porque eu nunca me vi cis, principalmente até os 23 anos. Depois que a puberdade assolou o meu corpo, depois que eu fui pra 300 endocrinologistas e mudei de voz e passei essa vergonha, eu ensaiei a barba no rosto, ensaiei o cabelo curto, ensaiei me enquadrar em alguma coisa, ser viste de outra forma, mas isso tudo não é muito pouco. Eu acho também que eu perdi o corpo muito cedo e é difícil ter infância sem corpo, com as coisas que fizeram com o corpo.
Eu acho que isso entra nas fotos que a gente fez. É muito difícil ser trans sem corpo também. Acho que o lugar da não-binariedade é também um bálsamo pra mim. É muito difícil ser trans sem corpo. Eu preciso, sei lá, aprender a roupa que eu vou usar. Usar a roupa que eu quero usar é difícil porque sem corpo o que você tem que fazer é cobrir completamente. Eu acho que eu tive que aprender a ser trans fora do corpo primeiro também. Não sei se eu tô falando coisa com coisa, porque é difícil falar, sabe?
Eu acho que a minha experiência com gênero mais intensa, e da pior à melhor, assim, foi tudo muito rápido. E depois, naquela época não se conversava sobre muita coisa, os livros que tratavam desse assunto ainda eram distantes, eu não sabia encontrá-los. Se Judith Butler publicou alguma coisa antigamente eu não sabia exatamente encontrar, chegar nisso. Ou na música mesmo. Eu me lembro de conhecer Anohni como Antony and The Johnsons e a fascinação que eu tive pela letra da música e pela arte do álbum e aquilo tudo chegava pra mim sem a linguagem ainda, mas eu via as entrevistas de Anohni, tem um show que ela meio que chora e dá tapinhas no rosto como se fosse pra acalmar o choro porque ela precisa continuar cantando. Eu lembro de nesses pequenos momentos assim, de me identificar profundamente e falar: meu deus eu preciso ter Anohni colada na minha parede porque eu sinto exatamente isso, eu dou tapinhas no meu rosto quando eu não consigo me controlar, eu faço exatamente o mesmo gesto, movimento de corpo. Essas coisas assim. Aí depois eu me conformei um pouco em não saber nada sobre mim, em não pensar muito sobre o nome que eu queria ter, nada disso. Eu passei a trabalhar só essas questões da violência do passado até que Anohni transicionou e depois outras pessoas se assumiram não-binaries. Eu fui lendo um pouco sobre isso na internet e tentando rememorar tudo que eu vivi e fazer sentido de alguma coisa.
Tenho também a imagem do banheiro muito forte na minha cabeça, porque eu conheci muitos meninos cis gays que cresceram semi-disfarçados, com a feminilidade em algum gesto, na forma de agir ou falar alguma coisa, mas, com o cabelo cortadinho ou alguma coisa assim, eles podiam usar o banheiro. E depois na adolescência, com a voz grave, eles podiam viver quase que normalmente no próprio meio gay. Eu me lembro dessa distância que eu tive, que foi imensa: eu não podia usar o banheiro, eu tive que dominar a minha bexiga muito cedo também. Mesmo depois que eu entrei pra faculdade eu ainda não conseguia entrar no banheiro público. Todas essas marcas não me aproximavam com esse grupo que cresceu diferente. É difícil até hoje encontrar… não que me represente, nem um espelho, nem nada disso, mas… um eco qualquer no meio dessa sigla linda e imensa, pro que foi que eu passei. Mas eu acho que a não-binariedade foi o território mais convidativo e fez o maior sentido pra mim.
Tiveram umas duas vezes nessa minha última fala que eu segurei pra não usar a palavra… tô me segurando de novo, pela terceira vez. Tipo, eu não quero parecer deturpar o que significa ser uma pessoa não-binária, mas lembro de muitas vezes assim, eu com uma atração imensa pelo bizarro, por coisas estranhas e tal, me sentir um alien assim. Ai, eu sempre tive uma fascinação também por isso. Lembro quando conheci o Caio, que é meu melhor amigo, ele é um home gay cis, a gente nitidamente viveu nada parecido. Foram infâncias completamente diferentes, tudo completamente diferente, mas eu lembro de perceber nele um amor pela minha aberração, sei lá, pela minha estranheza. Até eu ser humano depois da infância demorou um pouco.
Eu acho que o meu cérebro ficou muito fraco depois das violências e eu tinha esquecido de tanta coisa, que me foram lembradas com o tempo, durante os trabalhos. Eu passei a ter orgulho de quem eu era quando criança, eu passei a lembrar das coisas que eu pensava, em exercícios assim de retornar. Ou então aqueles exercícios quase bestas que a gente faz em terapia, apesar de não ter sido terapia com ninguém nem nada disso, foi só um trabalho de arte mesmo, de estar diante da gente mesmo, da criancinha. E de falar com ela, ou então olhar pra ela. Hoje em dia eu acho que eu me achava bonite, sabe, apesar de na época me achar um ET, uma mistura das coisas menos reconhecíveis do universo. Mas aí hoje eu olho e penso “meu deus eu não queria ter sido diferente, ainda bem que eu deixei o cabelo crescer até a bunda, ainda bem que a minha voz era bizarra e muita fina, e estranhíssima”. Eu nem tenho certeza, mas eu acho que eu tinha um pouco dessa noção porque eu não deixava nada me mudar. Eu acho que eu fui forte, também, mais forte do que eu sou hoje. Porque apesar de todas as violências, eu não fingia, eu não me camuflei, não conseguia me esconder. Mas eu só não conseguia me esconder porque eu não quis. Então acho que isso me dá orgulho. Eu queria que na minha arte, no meu trabalho isso aparecesse mais, vou tentar fazer com que isso apareça mais. Eu nunca falei isso em voz alta, então talvez esse seja o primeiro passo. Lembrar de mim quando eu ainda tinha corpo me faz querer voltar a ter corpo.
[ G: Eu acho que tua arte fala muito sobre orgulho. Talvez quem não entenda direito e nos coloque dentro de um balaio enxergue que é só sobre violência sempre. Ou quando não é sobre violência é pra causar. Mas acho que é muito forte. Por exemplo, na obra que são as pedras envoltas com espuma - talvez eu tenha ouvido tu falar sobre isso ou talvez eu tenha inventado na minha cabeça e agora eu não sei se isso é uma pensamento meu ou se eu te ouvi falar sobre isso (risos) - mas pra mim tem a ver com realmente criar essa proteção e suavidade. E é interessante também porque vocês não estão tentando fazer com que as pedras não existam. Mas existe essa proteção. E ao não tentar fazer as pedras não existirem, vocês não apagam. Então pra mim isso fala muito de orgulho. ]
M: Nossa, é verdade. Assim, nunca parei pra falar ou pensar exatamente sobre isso, mas num certo sentido, claro, as pedras nunca vão desaparecer da minha vida, mas ao mesmo tempo, se eu apagasse as pedras, eu apagava o fato de eu ter corrido delas. E de ter chegado em casa com a perna machucada, pensado o que eu pensei, continuado sendo quem eu fui. Não tem como apagar uma coisa e esquecer que em decorrência daquilo, ao apesar daquilo, ou enfim, eu continuei a ser quem eu era, eu iria apagar um momento em que toda vez eu decidi continuar sendo jovem Masina.
Primeiro, eu vejo futuro trans na infância livre. Portanto, futuro trans não precisa nem da palavra trans, porque a infância não precisa muito dessas palavras. Ela precisa de proteção. Eu acho que a palavra proteção também é a principal. Eu prefiro proteção do que amor. Eu prefiro proteção do que amor porque eu acho que é isso que falta, acho que amor pode ser muito condescendente, tipo “eu te compreendo”, “eu te respeito”. Acho que proteção é muito mais importante, então vejo um futuro trans com muita proteção e muita infância livre pra ser ou nem ser.
Eu vejo menos necessidade de pedir das pessoas que nos olhem. Eu vejo muito resgate também, porque acho que o legado trans é um legado que reconhece que muitas experiências ficaram para trás. Eu vejo que olhar pra trás e reimaginar hinos e deuses e pessoas que já morreram meio que presas no binarismo e só focadas ali, eu vejo um futuro trans resgatando em arquivos vivos, não em museus só. Resgatando experiências sufocadas. Eu fico vendo também em quem ainda tá viva… Porque assim, eu não me considero velha, tá (risos), mas eu fico pensando que nossa, eu queria tanto encontrar outras pessoas que aos 35 quase 36 ainda não tem corpo, sabe. E que só mais tarde descobriram que têm, ou puderam usar, ou puderam ser. Eu fico imaginando que talvez seja muito importante entender que o tempo trans se expande para os dois lados… É difícil. Eu queria ter uma outra chance de ter sido a criança trans que eu fui. Ou então outra chance de tanta coisa assim. A gente cresce sem vocabulário, sem ontologia, sem nada. O futuro trans também é salvar os passados trans, dar nome, oferecer proteção. Porque parece que não se vive mais lá, mas as coisas ainda estão na gente, né. Sei lá, tô muito Einstein, tô muito tecido do tempo, tô muito todos os tempos juntos. Tô muito quântique.
Lembro do final de uma música que Nina Simone fez pro Martin Luther King quando ele morreu. Ela começa a lembrar das pessoas que já morreram e ela aconselha: “fique perto das pessoas que você ama”. E esse senso de proteção é a única coisa que salva mesmo a gente da morte e de outras pequenas mortes e roubos nossos. E proteção é muito mais essencial do que tudo, estar perto, do lado. Eu lembro de um amigo chamado Gabriel, que eu tive na escola, hetero, mas, meu deus como ele era um ET também como eu. Ele se enquadrava fisicamente em tudo, ele ia ao banheiro masculino, jogava basquete, etc. Mas ele ficava do meu lado quando eu precisava. Eu acho que ele nem percebia conscientemente que quando ele ficava do meu lado as pessoas não mexiam tanto comigo. Mas só de estar do lado quer dizer tanta coisa, quer dizer que você não sente vergonha daquela outra pessoa, quer dizer que você não se importa com o que as outras pessoas pensam de você. É muita coragem proteger ou estar perto.
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*ensaio realizado em julho de 2023 no Rio de Janeiro (RJ), Brasil
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