Eu sou o Lau, tenho 27 anos, eu tô morando em Montenegro de novo. Eu nasci aqui e tô estudando artes visuais na Uergs. Tô bem no começo do curso, acho que é isso. Ah, tem a coisa da identificação né? Eu acho que, não sei, que eu acho que eu tenho me identificado como transmasculino nos últimos tempos depois de um tempão me identificando como homem trans, e, não sei, tô um pouco mais confortável assim, tipo, abrir mão do “homem”, de tentar acessar essa identidade mais a partir de ser trans do quê a partir de outras coisas sabe? Tenho essa pira de ser mais trans do que um homem, de  construir uma identidade mais a partir daí.

Acho que tem todo esse tempo que eu passei só sendo uma criança e daí vem todo esse grande jogo, esse esquema da heterossexualidade e da cisgeneridade, onde a sexualidade… onde essa leitura sapatão começa quando eu sou muito novo: eu não sou sapatão e eu não sou hetero também, quando eu não tava interessado em outras pessoas dessa forma. Então eu passo a ser sapatão antes de olhar pra uma mina, antes de sentir desejo ou atração por uma mina eu já sou lido e tratado como sapatão porque eu jogava bola. A escola começa a ficar horrível, eu começo a ser muito maltratado e aí tem esse grande momento que eu tenho 16 anos e olho pro rolê e percebo que to tomando uma ruim absurda por ser sapatão sendo que eu não sou sapatão. E também, eu tinha essa ideia de que eu não era hétero porque eu não conseguia engajar nessa ideia da sexualidade porque não era algo que tava presente em mim ainda. Aí é isso, eu percebo que posso fazer essa escolha: se eu vou ser uma parada que eu não sou, então vou escolher o mais fácil. Vou ser hétero, vou ser uma mulher cis hétero.

Não acessava essa possibilidade de não ser uma mulher. Aí eu começo a namorar com um cara que é meu melhor amigo, a gente joga vídeo game, assiste "Prison Break", joga bola, assiste jogo de futebol e em algum sentido fica mais fácil, minhas colegas começam a me tratar bem - principalmente isso: eu começo a ser melhor tratado. Aí parece uma boa escolha porque é só o outro lado, eu só continuo sendo uma coisa que eu não sou, porque passei todos esses anos sendo sapatão sem ser. Até que sei lá, dois anos depois eu olho de novo pra cisheteressexualidade, olho de novo pra sexualidade, sinto uma… sei lá… desejo por uma mina. E aí abraço esse lugar de ser sapatão e de ser uma coisa com a qual eu me identifico. E daí passo esses vários anos sendo sapatão e construindo uma identidade de gênero que tá colocada no lugar de ser sapatão, sabe? De “é isso, não sou mulher, sou sapatão”. E eu vivia com pessoas pra quem isso era possível, a gente conseguia falar sobre não ser uma mulher… Eu não falava sobre ser trans, mas falava sobre não ser uma mulher. Foi quando comecei a ter contato com uma galera queer e essas possibilidades. Em um momento X eu resolvo me hormonizar, ainda nessa pira de ser sapatão e construir esse corpo sapatão, não só a sexualidade mas um corpo sapatão, uma estética.

Eu fico assim em Porto Alegre, viajo pra SP, pro RJ… E quando eu volto, eu vou pra Montenegro e em Montenegro era impossível. Isso não era possível. Ou eu era uma mulher ou eu era um homem, eu precisava de um discurso mais acessível, eu acho. Porque é isso, tinha essa coisa de, sei lá, ser entendido, de não conseguir cobrar respeito por uma identidade que não era identificável. Todo mundo sempre me chamava de “Estranha”, era assim que meus amigos me conheciam. E quando eu venho pra Montenegro é impossível que eu tenha esse nome, que eu tenha esse corpo, que eu me entenda desse jeito. E aí eu começo a pedir pras pessoas me tratarem no masculino me chamando de “Lau”, que é um pedaço do meu nome de registro, que na verdade foi uma escolha pros outros, achei que ia ser fácil. Aí eu começo a produzir essa ideia de ser um homem trans porque… sei lá, não era tanto do meu desejo, era mais de sustentar um desejo primeiro, que era o de não ser uma mulher, sabe?







E depois de um tempo essa identidade meio que se cristaliza e eu não penso mais tanto sobre isso. Acho que nos últimos tempos eu voltei a pensar um pouco mais… Agora eu não acho que eu tenha muita passabilidade, mas como eu moro em uma cidade pequena as pessoas já sabem o que tá acontecendo, então eu consigo soltar um pouco essa dureza de me afirmar enquanto homem, consigo mais espaço pra pensar e construir isso que eu tô pensando e construindo agora. Porque… sei lá, esse rolê é muito cruel. Se no mundo existem essas duas possibilidades - ser homem, ser mulher -, quando tu não é nenhuma delas... rola uma desumanização, uma impossibilidade de pertencimento, de identificação, de leitura. Não é só o mundo que não te entende, mas tem tu que não te entende porque não existem palavras pra falar sobre isso, não tem um léxico possível… eu não acessava pelo menos. Tenho muito essa pira das palavras, me importo com isso… acho que um dos grandes problemas foi não ter as palavras. E agora talvez eu esteja conseguindo construir um repertório de palavras que eu posso usar, palavras que não estão dentro desse léxico da heterossexualidade. Falo da heterossexualidade não só como uma prática sexual mas como um regime político, como uma linguagem que tá dentro desse regime, que troca com esse regime - a linguagem construindo a heterossexualidade e a heterossexualidade construindo também a linguagem. Então começo a conseguir criar um vocabulário próprio, encontrar as palavras para falar sobre mim. Escuto outras pessoas falando sobre elas e sinto que tem mais coisas circulando agora.

Ontem mesmo tava falando que até acho massa que no Brasil a gente não tenha conseguido incorporar tanto a ideia do queer enquanto identidade, porque parece que não dá mais possibilidade pra ficar desmembrando nossas identidades - que eu leve dez minutos pra te explicar o que é isso, o que é pra mim ser uma pessoa transmasculina. Que isso não esteja pronto, cristalizado. Eu tenho muito essa ideia de que a cisgeneridade, a heterossexualidade são essa coisa concreta e que tem seus limites muito bem definidos e que qualquer coisa que acontecesse fora desse lugar tá fora. E me parece agora que estar fora desse lugar é muito amplo, como se a gente tivesse muito espaço pra falar e viver as coisas. Porque é isso: a partir do momento em que tu não tá mais lá… sei lá, tudo que não tá lá, não tá lá. E aí eu fico nesse teto de que a gente é mais do que isso, de que… eu gostaria de pensar que não ser cis é complexo e que tem muito pra falar, pensar e explorar aqui, sabe?

Pra mim é importante entender onde que surge o nome que eu tô usando pra mim. E quando eu falo de linguagem é isso: a transgeneridade só existe enquanto um "fora" pra regular a cisgeneridade. As pessoas que deram o nome pra gente provavelmente não eram trans. As possibilidades pra essa minha existência foram criadas a partir de uma linguagem que não é a minha. Quem inventou, quem deu o nome pras minhas dores são pessoas que tavam só olhando pra elas, não tavam sentindo. Às vezes eu acho que é super cruel que eu tenha que chamar isso de disforia, porque eu sei de onde vem esse termo, eu sei pra que ele serve, eu sei o que ele tá regulando. Eu não to dizendo que disforia não existe, tô dizendo que talvez seja massa um cuidado pra olhar pra isso e tentar entender isso por uma lógica que não seja tão patologizante. Porque é isso, todos nossos nomes vêm enquanto patologia. Por isso que eu digo que criar linguagem é tão importante, pra que a gente consiga criar as nossas concepções e as nossas categorias e que elas não partam só disso. Que os nomes que a gente vai usar pra nós não sirvam só pra regular a cisgeneridade, que não sejam nomes só pro outro. A principal parada da transmasculinidade pra mim é a desidentificação, não é a identificação. Não é me identificar com o ser homem, é bem mais sobre me desidentificar de coisas que me foram impostas e, depois, me desidentificar da masculinidade, sabe? Olhar pro que é essa masculinidade, olhar pra que lugar é esse que de alguma forma eu to buscando e questionar ele. Construir esse corpo pra que ele não estabeleça uma aliança com a violência, essa identidade onde a única possibilidade, a única forma de vida, se dá pela violência. E tentar construir aliança com pessoas que não querem que essa seja a única forma de vida.


Eu acho que a masculinidade tem essas várias camadas, não é só estética, não é só uma coisa… Eu cheguei em um momento da minha transição em que tô me hormonizando há cinco anos já, então eu sei que não posso esperar por mais mudanças estéticas. Aí, durante a pandemia, eu vivi um luto por isso, de me olhar no espelho e saber que não vou ter mais passabilidade do que já tenho. Mas depois desse momento eu entendo que sim, que existem formas de ter mais passabilidade do que eu tenho agora, que é fazendo essa aliança com a violência, principalmente. Por exemplo, se eu deixar de sentar assim, se eu descruzar as pernas, se eu falar mais alto, se eu bater na mesa, se eu te tratar mal, talvez eu pareça mais com um homem. Eu meio que entendi que abrir mão da violência é de alguma forma aceitar que eu vou sofrer mais violência. Então eu tô nesse jogo constante de “até onde eu vou pra ser reconhecido e respeitado da forma como eu tô querendo?”, mas também pensando em quem eu preciso deixar de ouvir, de quem eu preciso deixar de cuidar pra conseguir esse respeito, sabe? É uma perspectiva meio cruel, é cruel que a gente precise fazer essas escolhas, mas pra mim também é sobre isso, sobre pensar nisso.


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Eu vivo com o Guto, meu irmão que tem 14 anos, e até então ele é um homem cis. E pra mim faz sentido esse esforço porque… não é só um esforço também, às vezes eu sinto que isso é fazer uma defesa de mim mesmo; não aceitar o que a masculinidade me dá, que é essa possibilidade sempre da violência e da superioridade. Que eu sei também que é um delírio achar que essa superioridade se apresenta como inteira, porque sei que enquanto pessoa trans nunca vou chegar nesse lugar, mas sei que poderia chegar mais perto. Mas acho que é isso, é uma defesa das minhas coisas porque não é só como se eu evitasse falar alto porque acho que isso pode ser ruim pra outras pessoas, é porque eu não quero falar alto. É porque eu quero ser fofo ou querido, quero tratar bem as pessoas, eu não quero ter que ser um cara desse jeito, então acho que é uma defesa e um cuidado que eu faço pra mim mesmo de olhar pra masculinidade e não querer coisas que ela poderia me dar, por mais que, sei lá, às vezes eu queira (risos).

Porque é isso né? Usar da violência pra evitar sofrer uma violência. E isso é também estabelecer essa aliança, é também reiterar isso. Mas eu também tenho conseguido identificar outras formas de vida. Conseguido devolver as coisas de outra forma que não pela treta porque acho que isso é a manutenção da parada, que a gente só possa devolver a parada usando dela mesma. E por isso que fico tanto nessa ideia… tô sempre pensando sobre e reforçando a coisa da criação de linguagem. Criação de linguagem pro afeto principalmente. Porque tá, é isso, a gente tá aí vivendo e nada do que existe é pra nós.

Postei isso uma vez no Instagram, que foi um grande teto, que um dia eu tava assistindo o filme dos Dálmatas e aí tinha no começo sempre o dono do cachorro passeando com seu cachorro na coleira. E o dono é sempre parecido com o cachorro. Aí tem esse teto que assisti esse filme e, claro, não foi uma coisa tão racional, mas que agora percebo que quando era pequeno eu ia ter um dono parecido comigo e não um cachorro parecido comigo, porque eu me parecia tão pouco, me entendia tão pouco com uma pessoa como aquelas... Tudo que existia de imagem… As pessoas não se pareciam comigo, eu não me parecia com um príncipe ou com uma princesa, eu não me identificava tanto que eu passei a achar que eu era um cachorro, tá ligado? Sei lá, por isso que eu falo de conseguir criar outras imagens. E acho que o Ser Trans é sobre isso, sobre outras imagens, outras palavras pra gente se identificar, pra gente pertencer a alguma coisa. Eu acho que isso é importante porque quando eu tava assistindo esse filme percebi que eu construí muito pouco imaginário quando pequeno, eu não imaginava um futuro… Tenho poucas imagens… Vejo as pessoas falando “quando era pequeno pensava que ia ter uma casa tal, que eu ia namorar com tal pessoa”. E eu não tenho essas imagens. Faz pouco tempo que consegui começar a criar um futuro pra mim porque faz pouco tempo que eu começo a entender que sou uma pessoa, que eu to no mundo apesar de não existirem muitas coisas à minha volta que se pareçam comigo. 

Por isso que eu digo dessas alianças que a gente faz, de encontrar pessoas que se pareçam com a gente pra gente entender que sim, que a gente existe, que a gente faz sentido, que é justo que a gente sonhe coisas, que a gente queira coisas por mais que pareça que no mundo não existem outras pessoas que nem a gente. Tipo, as pessoas dos filmes não se parecem comigo, o que as pessoas falam não se parece com o que eu gostaria de falar e então eu encontro essas pessoas e crio isso, crio uma linguagem pro afeto que tenho por essas pessoas. Pra mim não serve a linguagem do afeto heterossexual, por mais que sei lá, provavelmente se tu me ver na rua eu vou ter essa leitura da heterossexualidade porque eu me relaciono mais com mulheres. Mas ainda assim, por mais que a leitura estética se pareça com heterossexualidade, não é. A maneira como to desenrolando esses afetos não é heterossexual - primeiro porque eu não ganho isso do mundo, não ganho muito a possibilidade da heterossexualidade a princípio. E, depois de um tempo, eu não quero mais ela - eu quero inventar outra coisa. Eu não digo que não sou hétero como se a outra possibilidade fosse ser gay, eu digo que não sou hétero porque não engajo nesse regime, eu não gosto das pessoas dessa forma, meu afeto não circula dessa forma. Então tem aí mais uma coisa pra eu me desidentificar e acho que ultimamente tenho feito muita questão de me desidentificar disso porque não é isso que eu quero reproduzir, eu não quero pedir licença pra existir em um lugar com o qual eu não concordo. Isso não faz sentido… Porque eu ia querer essa merda?
Eu tenho às vezes um pouco de receio de falar sobre essas coisas porque sei que existe um lugar da lesbianidade que lida bem mal com a possibilidade de que eu enquanto pessoa transmasculina diga que ainda desenvolvo, desenrolo meu afeto a partir de um lugar sapatão. Enfim, eu não to colocando essas coisas como "a" experiência de ser sapatão, é a minha experiência de ser sapatão. Não acho que vá afetar tanto o lugar de mulheres que são sapatão ou mulheres que são lésbicas, não acho que seja tão perigoso assim.

Já tavam circulando vários discursos rad em Porto Alegre quando eu comecei a fazer isso, então foi uma coisa que comecei a fazer sem contar pra ninguém. Foi um momento em que Porto Alegre era uó nesse rolê, eu tinha medo. Foi há uns cinco, seis anos atrás. Eu tinha um pouco de medo, então eu começo a fazer isso escondido e pouco tempo depois vou embora dar um rolê e então eu tô viajando muito, mudando sempre de lugar e minha cara tá mudando também. Eu mudo de Estado e minha cara, meu corpo, estão diferentes todo dia. Aí eu paro um pouco e nesse tempo em que tô parado eu entro mais em contato com pessoas que falam sobre ser uma pessoa trans e eu não sei… Eu sofri muito pra… Foi a grande treta do começo da minha transição, fora o medo que eu tinha dos discursos que tavam no entorno, eu tinha muito medo de perder essa parada que era ser sapatão, que era tão importante pra mim, que é tão importante pra mim ainda, de não poder mais ser, né? Eu tinha aprendido a gostar das pessoas desse jeito, eu não sabia como eu ia fazer pra gostar das pessoas se eu não fosse mais sapatão. Eu ia ser um cara hétero? Eu tinha tantas experiências horríveis com caras héteros no meu entorno, minhas amigas, as pessoas que moram comigo. Aí, depois de um tempo eu entendo que não vou perder isso, que eu posso criar uma categoria, que eu posso desenvolver esse afeto pra além da heterossexualidade mesmo que no momento eu estivesse me identificando enquanto homem. Não sei, acho que eu demorei pra conseguir resolver isso, passei muito tempo tentando porque as ideias são sempre muito binárias, tipo, eu tenho que deixar de ser uma coisa pra poder começar a ser outra.






Tem esse tempo em que eu tomava remédio e tem algumas informações que ficaram perdidas. Eu lembro da primeira vez que apliquei T com um amigo, lembro de ficar feliz mas tem algumas coisas que não lembro, não sei como comprei. Eu precisava de alguma coisa que conseguisse fazer eu me desidentificar da mulheridade, eu precisava de alguma coisa circulando dentro do meu corpo, talvez. Agora não sinto mais isso, mas no momento foi isso e essa pareceu uma possibilidade. Agora eu não me hormonizo mais pra isso, mas no momento foi. Eu precisava de alguma coisa física, eu acho que talvez tenha sido isso. São as duas camadas da desidentificação porque primeiro eu me desidentifico de ser uma mulher e depois de ser um homem. Eu acho que teve esse momento em que POA tava difícil e que minha saúde mental tava bem precarizada e tudo na minha volta tava bastante violento e eu precisava de alguma coisa, alguma coisa pra mim eu acho. Alguma coisa que valorizasse minha experiência, foi quase como isso, como eu de alguma forma dizendo que o que eu tava fazendo era válido. Foi um presente, eu dizendo pra mim mesmo que eu não era um delírio e que a violência que eu tava sofrendo tava errada, que eu não merecia tá sofrendo aquilo e aí eu tento acessar alguma coisa que valorize minha experiência. E o hormônio foi a coisa em que consegui pensar na hora, mas poderia ter sido qualquer outra coisa.
Sei lá, acho que eu tive muita sorte porque… É isso, a gente vai encontrando as pessoas e se identificando com elas. Toda minha experiência, depois que eu saí de Montenegro, tinha muitas pessoas trans na minha volta, então tudo sempre foi muito em rede, eu descobri várias coisas sobre mim vendo essas outras pessoas e vivendo com essas outras pessoas e transicionando com essas outras pessoas. Teve esse momento que… eu acho bem louco porque às vezes falo sobre as coisas e começo a lembrar sobre coisas que eu não lembrava mais. Tem esse momento em que eu comecei a me hormonizar, talvez tenha sido o momento em que eu tava mais sozinho, porque a ocupação onde eu morava era uma ocupação de sapatão, onde em um determinado momento o discurso passou a ser bem violento, tipo “mulheres que amam mulheres”. E a gente passou a deixar de receber pessoas na casa, a gente deixou de receber pessoas trans na casa e era a casa onde eu morava… E eu queria me hormonizar, foi muito sobre isso, sobre perder espaço. Então eu começo a me hormonizar sem ninguém saber, andar com hormônio escondido na mochila. Lá rolavam reuniões de horas e horas pra decidir se pessoas trans podem ou não frequentar esse espaço enquanto eu tô lá, sei lá, meio que participando das conversas e me sentindo meio que como se estivesse invadindo o espaço. 

Mas pouco tempo depois saio de lá e conheço várias pessoas trans, divido minha vida com várias pessoas. Eu tinha uma companheira, que é uma pessoa amiga até hoje, e que me apresentou várias pessoas. Ela sempre tá nesses espaços porque acho que é o que faz sentido pra ela e aí ela me leva junto, eu passo a conhecer várias pessoas, então não durou tanto tempo isso de não ter lugar, sabe? Porque é isso, eu tenho muito esse teto de que várias vezes a gente fica falando sobre esse não-lugar, “ah, o não lugar da pessoa trans, etc”, mas eu fico no teto de que isso na verdade é um lugar enorme, onde tem várias pessoas e várias coisas pra gente pensar e fazer ainda. Tô num momento em que eu tô animado, sabe? Ser isso me parece uma coisa boa, parece que isso resolve… Me parece que isso é uma solução, finalmente, sabe? Claro, não é uma solução perfeita, nao tá tudo ótimo mas me parece que isso me resolve vários problemas que tive de não-reconhecimento durante minha vida toda… Não ser um homem, não ser uma mulher, não ser cis. É super potente, eu vejo que nesse lugar tem espaço pra eu pensar sobre várias coisas que antes eu não podia nem pensar, que eu não tinha nem palavras pra falar sobre isso e que agora tem tanta coisa.

Eu tenho essa pesquisa, minha pesquisa na faculdade onde eu tenho feito uma busca por corporalidades trans na antiguidade. E o grande teto dessa pesquisa é que a princípio eu tava buscando objetos de arte na antiguidade greco romana que tivessem um entorno que possibilitasse que a gente questionasse a cisgeneridade desses corpos. E aí agora eu chego em um momento da pesquisa em que as pessoas dizem “não, mas isso é anacrônico, tu não pode dizer que as pessoas eram trans porque esse termo não existia naquela época”, mas aí tu pensa um pouco e percebe que a cisgeneridade também não! E é sempre esse teto, parece que o que não é enunciado tá ali, é natural. A cisgeneridade é natural, é neutra, existe desde o começo dos tempos e a transgeneridade é uma invenção moderna. E então eu não posso ter esse olhar pra questionar a cisgeneridade desses corpos, só que o grande teto é que eu posso! (risos) A imagem é um dispositivo de afirmação da cisgeneridade, um dispositivo de manutenção dela. A gente olha pra todos esses corpos e tem certeza que eles são cisgêneros mesmo que eles estejam vestidos. Esse é o grande teto, eu não preciso de um entorno que questione, que nos forneça uma pista de transgeneridade, porque não tem também um entorno que dê pistas sobre a cisgeneridade. Na verdade é só a reiteração da norma, é só a galera tendo certeza que só isso existe desde sempre e eu posso talvez dizer que a Monalisa é trans com a mesma certeza que as pessoas dizem que ela é cis, porque a gata tá vestida tá ligado? Qual o teto? (risos)

É enorme a parada, é enorme pra se pensar, pra se viver. É isso, talvez por isso eu esteja animado agora pra fazer essa busca pra nos dar um pertencimento histórico, pra que não aconteça o que aconteceu comigo, pra que as pessoas quando não são homem ou mulher elas não tenham que achar que elas são um cachorro. É muito violento, muito cruel que a gente tenha sido invisibilizado, que as nossas histórias tenham sido mal contadas. E fazer essa busca é uma parada que pra mim faz muito sentido pra entender que isso tudo é sobre uma violência passada e presente e que olhar pra isso é também tentar estabelecer uma possibilidade de futuro mais possível, não só possível mas boa, ótima, perfeita.





Eu acho que Montenegro tem a UERGS, que tem cursos de dança, teatro, artes visuais, música, então todas as LGBTs do mundo vão pra lá e isso muda muito a cidade. Porque Montenegro é uma cidade de colonização alemã, é uma cidade extremamente racista, conservadora, lgbtfóbica, só que é isso, tem a Fundarte e tem a UERGS e as coisas mudam um pouco a partir disso, eu acho. Pela circulação desses corpos na cidade e pelo que esses corpos produzem enquanto arte, eu acho que isso real muda a cidade. Se tu for pra cidades perto de Montenegro a galera vai tá falando dialeto alemão e provavelmente elas vão começar a falar assim porque elas não querem nem se comunicar contigo se tu for um corpo estranho. Então é isso, é podre mas tem essa coisa, da mesma forma que tem o Rio, tem a UERGS… tem outras coisas circulando, atravessando a cidade. E aí eu volto pra Montenegro mais ou menos bem entendido, sabendo o que eu quero, o que vou aceitar e o que não vou. E claro, fazendo essas concessões de “ok, a partir de agora eu sou um homem trans porque é isso que vocês entendem”, mas meio que fazendo isso como uma defesa porque eu sou meio intolerante. Quando eu fico brabo eu fico muito brabo e eu sabia que não queria mais viver na treta, então eu precisava tornar essa identidade o mais inteligível possível, porque eu sabia que não queria viver em conflito.

Então tá, eu faço isso, venho pra cá e pouco tempo depois tô trabalhando de chapista em um bar de rock e aí eu proponho pro dono que a gente faça uma festa e ele me deixa fazer. Essa festa é a "drag-se", que é a primeira festa com show de drag em Montenegro. E vão várias pessoas LGBTs nessa festa e o dono meio que se tapou de nojo e me ofereceu o bar pra eu alugar. Eu aluguei esse bar e ele virou um lugar LGBT e eu só contratava pessoas LGBT pra trabalhar lá, porque a galera da UERGS… Montenegro não tem casa do estudante, não tem RU. E como é uma cidade conservadora, é difícil pra conseguir emprego. Aí eu basicamente contrato pessoas LGBTs que estudam na UERGS, e principalmente pessoas trans. Então eu fico vivendo lá no bar, trabalhando pra caralho mas também em contato com todas essas pessoas o tempo todo e Montenegro vira esse lugar.

Quando a gente era mais novo eu andava com várias pessoas LGBTs em Montenegro. Eu era hétero e andava com um monte de bicha e sapatão e a gente não podia entrar nas festas, a gente não entrava em festa, a gente ficava bebendo num canto na praça e as vezes até escondido em um bequinho porque na praça várias vezes dava treta. Aí quando eu volto, vários anos depois, eu tenho um bar onde sei lá, todas as pessoas LGBTs tão lá e a gente recebe relato de pessoas cis hétero dizendo que não se sentiram confirtáveis lá e eu fico “ok, é isso, eu vivi minha vida toda sentindo isso”. Então Montenegro se torna meio fácil… Mas no meio disso tem a eleição do bolsonaro e várias pessoas passando de carro gritando coisas horríveis no bar, jogando garrafa pra dentro, eu tendo que mandar os funcionários embora de uber, um por um e ter que esperar eles chegarem em casa de madrugada porque teve esse momento, que não foi só em Montenegro. Mas a gente conseguiu construir uma rede legal e aí várias coisas foram acontecendo lá, várias pessoas começaram a transicionar. Saíram na Casa da Esquina pela primeira vez, ou sei lá, a vez que a mãe de uma mina trans me ligou porque ela era menor de idade e não podia entrar no bar. E aí a mãe pediu por favor pra que ela pudesse entrar, porque ela sabia que era o único lugar onde a filha dela ficaria segura e ela queria comemorar o aniversário lá. E aí eu vejo essa mina de 16 anos comemorando o aniversário num bar que eu to gerenciando, com vários amigos em volta, sabe? E aí eu fico “caralho, se isso tivesse acontecido comigo, se eu tivesse podido comemorar meu aniversário de 16 anos no bar de um homem trans, com várias pessoas na minha volta...”, sabe? Isso, sabe? Fez muito sentido tá lá, ter trabalhado pra caralho… fez muito sentido. Quando eu vi o Gus sentado no bar e me falaram “ah, ele é um homem trans também”, eu fiquei… Pode crer! Ele tava lá com vários amigos, bebendo com pessoas que tavam tratando ele bem e ele tava sendo bem tratado por quem trabalhava no bar porque essas pessoas também eram trans. Foi muito importante, bizarro… Muito importante a Casa da Esquina... Financeiramente pra várias pessoas. Claro, não era um absurdo, mas pagava melhor do que os outros bares da cidade e acho que fez algumas pessoas conseguirem permanecer na UERGS até, porque elas tavam trabalhando. Fez eu fazer as pazes com a cidade também. A Casa da Esquina fechou faz, tipo, dois anos. Já no bar eu tava em contato com muita gente da UERGS, eu não estudava lá ainda mas eu tava em contato direto com as pessoas da UERGS. Eu fazia várias coisas de tentar movimentar… Sei lá, por exemplo, eu não usava o bar à tarde e a UERGS tem um pouco de dificuldade em emprestar sala pros alunos ensaiarem, porque tem poucas salas. E aí eu emprestava o bar pras pessoas ensaiarem lá. Seguido tinha gente da UERGS lá ensaiando, fazendo show, fazendo performance.

Aí teve esse momento em que eu tava conversando com uma amiga minha que é professora de teatro e ela me falou um rolê… Porque eu era muito anti academia, ainda sou um pouco. Não anti academia, mas tipo anti algumas coisas que tô tentando fazer diferente. E eu tinha certeza que nunca ia voltar pra academia. E então eu tava conversando com essa minha amiga e ela me falou “é muito massa isso que tu tá falando, mas tu tá me falando aqui nesse boteco, tu podia falar pra mais gente, pra crianças, a UERGS tem licenciatura”. Eu fiquei “ai, não, jura, nada a ver”. E ela me falou um teto de tipo “só tenha certeza que tu não quer fazer isso porque tu não quer e não porque tu não pode”. E eu voltei pra casa e pensei que se pá eu pensava mesmo que não podia, que não podia ser professor porque sou trans, que não podia pensar coisas ou produzir teoria ou arte porque não é isso que se espera desse corpo. E eu não sei exatamente ainda como que… sei lá, o que é ser uma pessoa trans produzindo arte. Eu não faço nada muito diferente do que fazia antes de entrar na faculdade, só parece que agora é um pouco mais legítimo.

Eu acho que me dá um senso de compromisso, porque eu desvalorizo muito as coisas que faço e agora parece que eu consigo pelo menos me comprometer um pouco mais com elas, mas… Eu to bastante em conflito, tenho um projeto agora que não sei se faço, se não faço, se é isso que quero, se quero produzir arte ou se quero só pesquisar. É tão louco, eu faço um rabisco no caderno e boto uma foto no instagram, sabe? E é isso, talvez seja isso. Tem essa coisa… Provavelmente a coisa que eu mais gosto que já fiz é esse, não sei se tu já viu, aquele de "ser um homem de verdade x ser um homem de mentira". E aí tem isso, se é arte ou não. Mas também tanto faz, é só o que eu tava pensando e sentindo e aquela foi a maneira como consegui fazer.









E quem quer produzir arte de verdade sabe? Que saco. Eu nem sei muito bem o que é isso.







Mas eu tenho um pouco esse teto de que as vezes é um pouco difícil produzir arte enquanto uma pessoa trans porque… Eu tive um sonho uma vez de que eu tava na frente da UERGS falando sobre uma coisa que era muito importante pra mim e ninguém prestava atenção no que eu tava falando. Era algo sobre arte, era uma coisa que era importante, que eu tava bem animado e ninguém me ouvia. Aí quando eu ia atravessar a rua eu era atropelado e isso se tornava uma grande coisa, isso chamava muita atenção. E às vezes eu tenho a impressão de que é isso que se espera de uma pessoa trans na arte, que ela sangre. Que eu sangre dentro da galeria e que todo mundo assista e depois eles só limpem as paredes e pintem de branco de novo. Às vezes eu tenho essa impressão de que isso tá bastante atrelado à precariedade, à marginalização e meio que ao show que isso vira, porque parece que é isso que eu tenho pra dar como pessoa trans: um grande espetáculo sangrento. Não é isso que eu quero fazer, eu quero produzir coisas pra pessoas trans se identificarem e isso não quer dizer que vai ser sempre feliz, sempre gostoso de ver, mas isso quer dizer que não é mais a lógica do freak show. Eu não quero ficar sangrando pra entreter os outros, sabe? Não é mais… Acho que por um tempo engajei nessa lógica e que agora não quero mais fazer isso, eu quero produzir com e para pessoas trans. Talvez seja isso que eu tenho mais concreto em relação à arte agora. 

O que regula a experiência trans é sempre a dor, sempre o sofrimento. E óbvio que a gente não vai dizer que isso não existe, porque isso existe, mas se a gente colocar toda nossa existência nisso o processo de se entender como uma pessoa trans vai continuar sendo horrível pra todo mundo, vai ser sempre esse sofrimento de “meu deus, mas eu vou ter que ser isso que é tão horrível?”. E sim, é horrível, mas tem os outros momentos, tem o aniversário dessa mina no bar, tem eu ter conhecido o Gus, tem a gente conversando agora, tem essas outras coisas… 

Eu tenho um trabalho que fiz há um tempo que chama “intramuros”, é uma série de colagens com palavras. E as pessoas ficam passadas quando olham pra isso, ficam “que? mas tu não é trans? cadê?”. E são cartas, e talvez esse seja meu trabalho mais trans, sabe? Porque são cartas de amor, nem sempre amor romântico, nem sempre de relacionamentos sexo-afetivos, mas são cartas onde eu tô criando linguagem pro meu afeto, eu to desenvolvendo, to inventando um jeito de falar pras pessoas que eu amo elas. Porque não me ensinaram a fazer isso, me disseram que o amor não era uma coisa que ia existir na minha vida se eu transicionasse. E aí eu faço esse trabalho e as pessoas olham pra ele e dizem “mas tu não é trans? a gente tá esperando coisas trans de ti”. Mas esse é meu trabalho mais trans, é meu trabalho que mais se relaciona com minha experiência de transgeneridade, sei lá, não tem meu corpo ali, não tem transfobia, mas tem eu sendo uma pessoa trans e produzindo afeto.

Não é como se a gente pudesse acessar essa coisa, o afeto.


[Fotografia Analógica - Dev/Scan por Lab:Lab]






As pessoas não tão preparadas pra que eu seja feliz, as pessoas tão esperando que eu seja miserável, que minha experiência no mundo seja completamente horrível só que ao mesmo tempo elas não tão fazendo nada pra que minha experiência no mundo seja melhor. Elas só tão reafirmando que “sim, realmente, coitado“. E ninguém espera que eu seja amado ou que eu ame alguém, que eu seja feliz ou que eu tenha momentos de felicidade, enfim, é isso… Esse rolê de ter sido expulso do paraíso da cisheterosexualidade e pelo menos ter a possibilidade de criar outra coisa.




Quando eu vinha visitar [minha família, eu] já tava me hormonizando, mas não sabia muito bem como comunicar essa experiência. E eu não lembro do dia que falei pra minha mãe que eu era trans porque acho que não teve esse dia. Eu não lembro do dia que pensei que eu era trans, não teve esse grande dia de revelação, só foi acontecendo.

Minha mãe é muito de boa, ela é perfeita, ama todos meus amigos; a gente fez um evento trans lá em casa, na casa dela, ela amou e usou um vestido das cores da bandeira trans. E o Guto... Meu, o Guto é perfeito desde sempre. Eu falei pra ele uma vez, pra ele me chamar de Lau, e ele nunca errou. Nunca. E ele… sei lá, a gente conversa bastante sobre esse rolê trans e também sobre várias coisas, a gente conversa bastante. E nos últimos tempos a gente conseguiu conversar um pouco sobre masculinidade e não só sobre a minha mas sobre a dele porque é isso né? Seria bom se não fossem só os homens trans que questionam a masculinidade. Acho que essa troca que a gente faz é muito perfeita. Esses dias a gente tava estudando junto, ele tava estudando conjuntos em matemática, tipo “tu tem três bermudas e três camisetas, quantos conjuntos dá pra fazer?”. E a professora deu um trabalho que era “em uma festa tem x homens e x mulheres, quantos casais da pra fazer?”. E eu fiquei “nossa, que porra, a heterossexualidade compulsória!!!! não vamos fazer esse”. E aí ele me mandou isso aqui [mostrando o celular]. Ele falou “Lau, eu fiz o que a gente falou”, aí ele botou: casais gays x, lésbicas x, héteros x. Muito inteligente, ele é muito fofinho. Ai falei que ele era inteligente, compreensivo e corajoso. Aí ele falou “valeu Lau, aprendi tudo isso contigo e agora posso aconselhar os outros graças a você”, muito fofinho! Ele tá muito disposto, isso me dá muita felicidade. Ele tem um amigo trans de 15 anos e a vó desse menino é dona de um mercadinho atrás da minha casa e ela me pergunta coisas… Quando eu falo que estar em Montenegro é massa eu falo disso, porque talvez não seja só sobre as grandes coisas, talvez seja essa uma mini coisa enorme.

E o Guto volta com ele da escola, ele me vê no mercadinho e vem falar comigo, sabe? Eu fico muito animado com isso, por isso que esse teto das crianças me deixa muito animado de ver que eles tão muito massa, eles sabem várias coisas. O Guto tem vários amigos que são bi, eles… Acho que vai ser um pouco mais fácil. Eu tinha muito medo do que ia acontecer quando o Guto tivesse essa idade que ele tem, porque minha experiência foi horrível. Com uns 12 anos começou a ser horrível pra mim, então eu tinha muito medo do que ia acontecer com ele, de como ia ser a vida. Eu tinha medo de ter que revisitar essas coisas, mas na verdade ele tá vivendo uma coisa que é completamente diferente, ele tem vários amigos LGBT, ele não se coloca enquanto hétero apesar de falar mais sobre mina e estar saíndo com uma mina agora. E aí eu fico achando que é muito sobre isso, porque aí eu vejo esse molequinho trans andando todo fofo no bairro, com vários amigos e sendo bem tratado pela vó, eu fico “nossa, é isso”. Eu sei também que essa não é a experiência de todo mundo, mas ver algumas assim já é diferente do que aconteceu comigo

Eu boto muita fé nessa coisa de imaginar outras coisas. Acho que é uma parada muito radical que a gente imagine que vai ser massa, que a experiência trans não vai ser pra sempre isso, e que essas violências que a gente sofreu vão deixar de acontecer. Eu gosto de imaginar isso e aí quando tem criança na volta parece que fica mais fácil de imaginar.


[Fotografia Analógica - Dev/Scan por Lab:Lab]




Lau Graef
1993.

Estudante de artes visuais na Uergs - Montenegro. Integrante do Coletivo Guapes: grupo autônomo de estudos em práticas de autocuidado e bem-estar para pessoas trans ativistas. Tenta desenvolver linguagens possíveis enquanto estratégia de sobrevivência para corporalidades não hegemônicas. Ativista autônomo.

Transmasculino.
Ele/dele.

5 anos em hormonização
@estranho____
*ensaio realizado em Montenegro (RS) em fevereiro de 2021.  
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Esse projeto é feito por mim, Gabz. Sou uma pessoa trans não-binária e busco não só retratar mas também abrir um espaço onde outras pessoas trans possam contar suas histórias, pra dar suporte pra nossa própria comunidade. Depois de muito sofrer com a carência de referências de narrativas trans que me contemplassem percebi que essas pessoas existem e sempre existiram, porém por motivos CIStêmicos as poucas vezes que temos oportunidade de contar quem somos acaba sendo através da lente de pessoas que não sabem como é a nossa vivência. Comecei esse projeto por urgência.
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