Eu vim para Porto Alegre porque eu tenho colegas que moram aqui. Que vieram de Goiânia para cá. Porque antes daqui eu morava Goiânia. E eu vim por conta da minha transição, acho que a transição foi o fator predominante. Porque eu necessitava ter uma liberdade e uma autonomia sobre a minha vida como eu nunca tive em 27 anos. 






Eu em Goiânia morava com meu amigo, que mora comigo hoje, Jardel. E eu tinha essa liberdade, mas eu não tinha autonomia, porque a minha mãe mora lá, meus irmãos são de lá, as pessoas que me viram crescer na minha infância, minha juventude e o ser adulto. E eu não tinha essa autonomia porque eu acabava que fazia as coisas meio que pisando em ovos para não machucar minha mãe. Pensava muito na minha mãe, pensava muito mesmo. Tanto que eu só vim me assumir um ser-morto-gay quando eu tinha 18 e quando eu estava morando em São Paulo. E quando eu me assumi como a mulher que eu sou hoje foi aos 22 pra 23 anos, então ainda assim eu tive um processo de demorar pra me assumir, pra me aceitar, por conta da minha mãe. Então eu não tinha essa autonomia que eu tenho agora, do que eu fizer a consequência é pra mim e é eu que tenho que ter o controle disso, mais ninguém.

O centro-oeste é predominantemente machista, misógino, racista, homofóbico, transfóbico, lesbofóbico, tudo que tiver fóbico o centro-oeste é. Goiás é exatamente isso, porque os donos de lá são coronéis, então são homens que jamais vão querer sair da zona de conforto para se desconstruir pra se tornar um homem melhor, jamais. E lá em Goiânia é um preconceito escrachado, é um preconceito que deixa claro que é isso que eles sentem, esse nojo, essa repugnação sobre nossos corpos. E isso me deixava extremamente triste porque eu imaginava que se eu continuasse vivendo ali eu ia estar vivendo sobre armadilhas, sabe. E não é isso que eu quero para minha vida, e não é isso que eu quero pra vida de ninguém, principalmente pra comunidade trans. Então o Estado de Goiás é um Estado que adoece a mente sabe, adoece o corpo. A não ser que você seja uma pessoa cisgênera e aí você vai viver tranquilamente porque você ou vai aceitar ou vai estar tão impregnada essa cultura que não vai fazer sentido sair dela porque você já está tranquilo nessa vivência. Então esse é o motivo maior de eu ter saído de Goiânia.








O que me ajudou na decisão de vir pra Porto Alegre foi basicamente eu ter perdido meu emprego, eu ter pedido a casa que eu morava com meu amigo e pelo mercado de trabalho ser tão competitivo entre as pessoas cisgêneras e não saber abrir portas e janelas pras pessoas da comunidade T em si. Porque a gente pode falar que na comunidade G existem as suas questões mas existe um conforto muito grande de encontrar qualquer emprego. E isso para as pessoas trans não é o que acontece, não é essa a realidade. Então eu perdi o meu trabalho, eu perdi a casa que eu tava morando e a opção que tava tendo ao meu alcance naquele instante era voltar para casa da minha mãe e eu não queria voltar para casa da minha mãe. Isso aconteceu, fiquei uma semana. E eu já estava decidida a vir pra Porto Alegre há um ano atrás. Eu vim em 2019. Acho que em 2017/2018 eu já estava planejando vir pra Porto Alegre, mas não sabia como.

Eu não me questionei se realmente seria aqui. Eu só decidi que eu devia sair dali o quanto antes. Acho que talvez seja uma maneira da gente tapar o sol com a peneira e ver qualquer outro tipo de estado como um estado menos opressor. Ou ver o estado com mais oportunidades. Ir pra São Paulo por exemplo, que é um estado de oportunidade, de sonhos, mas de nenhuma realização tão concreta sem nenhuma dor ou sem nenhuma perda de saúde mental e existência naquele estado. Ou neste país.









Como Goiânia é um estado que deixou bem explícito o que eles sentem, eu sofri transfobia. Mas eu sofri mais por parte de "amigos", que eu achei que fossem saber lidar muito bem com essa minha nova realidade, só que não foi o que aconteceu. Então a transfobia que eu passei em Goiânia foi mais voltada às pessoas que estavam no meu ciclo e obviamente que a grande maioria eram pessoas cisgêneras heteronormativas. Então eu fui percebendo que eu tinha que estar separando o trigo do joio de uma maneira muito agressiva. Só que isso seria agressivo para eles e não para mim, porque eu vou ter que tá acostumada com essa separação de trigo do joio até o fim da minha vida provavelmente.

O que eu passei de transfobia, que foi bem velada, foi no meu antigo trabalho num bistrô e foi quando o não nominável, o dito cujo não-presidente - a gente não vai falar o nome deste ser que não é ser. Quando ele ganhou, ocorreu um detalhe dentro da empresa. Eu já estava me sentindo desconfortável de, em alguns momentos, os clientes, na sua grande maioria brancos e hetero-cisgêneros, me tratarem no masculino. Eu na simpatia corrigir, sendo didática, porque não podia ser agressiva né, e nem posso. E isso já tava começando a me incomodar, eu cheguei a dizer isso para uma das gerentes. Não foi resolvido e na semana que o dito cujo ganhou houve uma carreata. E nesse mesmo dia, eu tinha acabado de terminar o meu expediente e me chamaram na sala para conversar. E aí me disseram que estavam encerrando o meu contrato, que eles adoraram meu desempenho, meu trabalho, enfim, mas que naquele momento estavam me desligando da empresa. E obviamente eu já sabia o motivo. Por mais que fosse um bistrô extremamente tranquilo, porque alguns dos funcionários que trabalhavam ali, alguns são da comunidade LGBT, e mesmo que não fossem eles são extremamente pessoas desconstruídas. Então eu tive um apoio e um suporte muito grande com a equipe, mas com os clientes não. Foi o que eu passei de transfobia assim, mesmo, que me tirou o meu chão. E aí óbvio que me fez perder a casa né, então...

E aí aqui em Porto Alegre as coisas são bem mais veladas, as pessoas gostam de usar um véu sobre os rostos, sobre os corpos e sobre a mente para não ter a necessidade de deixar explícito o quanto aquela pessoa não concorda com a nossa vivência ou não aceita o que a gente é. Então aqui é mais velado, aqui as pessoas não vão deixar escrachado, não vão deixar explícito. Eles não vão te olhar com um olhar de ódio - porque isso em Goiânia tinha, isso era explícito, você conseguia sentir a diferença do que era um olhar curioso, do que era um olhar com conotação sexual e do que era um olhar como 'nossa, eu quero tirar a tua vida'. E aqui isso não acontece. Só que, à contrapartida, isso acontece na comunidade G aqui em Porto Alegre, uma coisa que eu não tinha vivido em Goiânia, mas aqui em Porto Alegre isso correu muito com as faggots.







Eu comecei a perceber que as gays gostam muito de andar com as gays porque elas podem ser escrotas de uma maneira muito livre, porque elas não vão ser cobradas, elas não vão ser reeducadas e elas não vão ser taxadas como transfóbicas, machistas ou misóginas, porque elas vão fazer isso entre elas. Então não vai ter ninguém para dar um tóquinho, e elas não querem isso, elas não querem um tóquinho. Elas não querem um estalar para poder acordar para a realidade, entender e perceber que vocês existem e têm as regalias que vocês têm porque fomos nós pessoas trans e travestis que estamos na linha de frente. E são as pessoas trans e travestis pretas que estão na linha de frente. Então tudo que vocês conseguiram de regalias, de conforto, de estabilidade emocional e financeira e estabilidade social foi através de nós. E não esquecer que também foram as afeminadas que estão na linha de frente e mesmo assim vocês não respeitam, vocês não sabem lidar com isso. Então eu comecei a entender que, já que me fazem de chaveirinho, de transcard, eu comecei a escolher realmente quem eu quero como um ciclo de amizade G, que não seja tóxico. E entender também que a gente não tem que tá sendo didático o tempo inteiro com as faggots, a gente não tem essa obrigação. Não temos essa obrigação porque elas têm informação na palma da mão. E a informação que elas têm elas não buscam porque isso não tá ligado ao próprio umbigo nem a realidade dessa pessoa.


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Eu devo ter uns três anos de transição. Porque dois deles eu estava em um corpo de um ser que não existe. Então deve ter uns 3, quase 4 anos de transição. E é louco de pensar que eu várias vezes saí do armário me vendo como uma mulher. E voltei pra este bendito armário várias vezes também. E pra ser bem sincera, como o preconceito é muito explícito no centro-oeste e como a realidade que é dada para essas pessoas sobre corpos trans é muito marginalizada, então eu, quando era só uma faggotzinha, eu tinha medo das travestis. Eu tinha medo, eu tinha receio, por conta de como a sociedade trouxe essa informação sobre essas pessoas para nós. E de como isso foi entregue de uma maneira total marginalizada e excludente com aquele ser, sem ao menos querer conhecer. E mesmo que não quisesse conhecer, cada um tem a sua vida e cada um cuida dela da maneira que bem quiser, bem entender. Então sim, eu tive sim preconceito sim, fui transfóbica. Isso é um processo pra cada ser humano, de se ressignificar e entender que há coisas que precisam ser mudadas. Ou você vive no seu mundinho de bolha e fica naquele teu mundinho calado sem reproduzir nada e tá tudo bem também.

Então nesse meio processo eu fui me entendendo como uma faggot afeminada e entendendo que o meu corpo era muito feminino - é muito feminino. Algumas vezes as pessoas já chegaram a elogiar as minhas pernas, que lembrava muito as pernas da minha mãe. E aí a primeira oportunidade que eu tive de ser eu, que naquela época que eu levei como uma montação de drag, foi pra um trabalho da faculdade, porque eu fazia o curso de dança na UFG, Universidade Federal de Goiás. E o professor, que não vou lembrar agora a matéria mas um amado, um amor. Ele deu uma oportunidade da gente fazer um trabalho que nos representasse como um ser perante a sociedade. E aí eu tive a brilhante ideia de me montar de drag e fazer uma performance da Beyoncé, porque é uma mulher que me deu um suporte muito grande - ela não sabe disso, depois eu conto pra ela - da mulher que ela representa, do poder, da potência que ela tem e de como aquilo me libertava nos momentos em que eu colocava o DVD, em que eu usava salto da minha mãe, usava as roupas da minha mãe e da minha irmã. Eu me sentia a própria Beyoncé, branca, performando 1h30 de DVD e eu me sentia, bá, surpreendentemente incrível.

E aí eu fiz essa performance pra faculdade, eu me senti incrível. Isso foi na parte da manhã, umas 9 horas da manhã. Meu, de dia. Drag não tá de dia, maquiada principalmente. E isso acho que foi primordial pra mim, porque eu percebi depois que eu comecei a tirar a maquiagem, tirar todos os acessórios e as roupas, enfim, eu percebi o quanto aquilo me doeu. Eu percebi o quanto eu queria estar daquela maneira, sabe. E aí isso foi um processo. Não me questionei, só continuei seguindo a minha vida. Depois que eu fui morar com o meu amigo eu acho que começou a aflorar mais ainda, porque como eu não tava morando com a minha mãe, eu não tava dependendo dela e eu não estava mais tendo que dar satisfação da minha vida para ela, então acho que isso foi o ponto crucial. Eu ter saído da casa da minha mãe, literalmente, para viver a minha vida, foi o que deu a chave dessa imensa porta, que não era um armário e sim uma fortaleza imensa. E eu lembro que eu tava conversando com meus amigos, o Jardel e a Joyce, e acho que basicamente de contar para eles que eu não queria mais ser aquela pessoa, que eu tava cansada de ser aquela pessoa e que eu sempre fui essa pessoa que eu sou hoje. Então já começamos a decidir nomes ali no meio tempo. O Jardel deu a ideia de Sofia e aí eu fiquei com aquilo na cabeça e logo depois eu vim com Sophie.




Os primeiros meses foram perturbados, assim... Acho que os três ou quatro primeiros meses foi quando eu fiquei um bom tempo sem sair de casa com as minhas novas roupas. E aí eu comecei a me questionar se aquilo realmente era verdade, se aquilo realmente... o que eu tinha idealizado. Porque eu me assumi para esses dois e depois eu me assumi para a rede social. Então eu já tinha jogado esta deixa para todo mundo. E aí eu fiquei me questionando: meu deus, e se não for isso? Com que cara eu vou aparecer nas redes sociais e dizer 'olha gente, não é bem isso que está acontecendo, eu estava um pouco confusa. Então eu fiquei um tempo assim me questionando tipo meu deus do céu, até que num ponto eu disse 'Não. Não, não, não. Você não vai desistir. Essa é você. Você não tem que pensar no que os outros vão pensar. Não, não, não. De jeito nenhum'.

E aí eu doei as minhas roupas, outras eu queimei. E aí comecei uma nova vida e tinha a necessidade de ligar para minha mãe para poder contar para ela. Isso também foi um processo nada fácil. Lembro que eu ligava para ela todos os dias, mas eu desligava antes dela atender. Porque eu ficava 'o que eu vou contar? Qual vai ser a história? Como que eu vou levar essa informação sem que ela tenha um infarto e ela morra naquele instante?'. E aí numa dessas ela atendeu e aí eu tentei contar uma historinha assim, da minha infância. Quando eu era criança eu adorava pegar esses panos de fralda e colocar na minha cabeça para sentir que eu tinha um cabelo grande, isso já criança. A minha tia me contou que ela chegou a questionar a minha mãe quando eu era criança que talvez eu fosse uma menina. A minha mãe ficou quase um ano e pouco sem falar com a minha tia. Então eu fiz toda uma história para que ela tentasse entender ou sei lá tentasse compreender. E não foi o que aconteceu, nem um, nem outro. Ela só disse que preferia não me ver assim, dessa maneira. Então daí em diante eu mudei total a minha maneira de lidar com a minha mãe. 

Atualmente a gente se fala com bem menos frequência, eu já tinha diminuído a minha frequência desde o dia em que ela disse isso. Então eu comecei a não falar com ela, a não ligar para ela, a não mandar mensagem para ela. Eu ligava e mandava mensagem quando eu tava precisando de dinheiro, não vou mentir. Porque todas as vezes que eu falava com ela, que ela usava o pronome masculino ou ela me chamava no apelido antigo... Nossa, quando eu escutava aquilo já me dava repulsa. Não, meu, ela tá falando de alguém que não existe mais. Eu cortei todos os meus laços de amigos pra não ter que tar convivendo com isso. Eu troquei de cidade exatamente pra não ter que estar convivendo mais com isso. E a minha mãe está fazendo isso. Então eu diminuí a frequência com ela total e eu só falo quando é necessário. Ou quando ela vem para falar comigo e eu vejo que não tem pra onde fugir, aí eu vou e falo.





E fui enfiando na cabeça dela agora, de uns cinco meses para cá eu comecei a enfiar na cabeça dela, comecei a contar um pouco sobre a minha hormonização, comecei a falar pra ela que eu não gosto da maneira que ela me chama, que ela vai ter que dar um jeito de mudar isso. Em um certo momento da minha vida nesses cinco meses eu tava mandando a lista de transmissão de bom dia para todo mundo e incluí ela nesta lista. E os dias que eu não mandava ela perguntava 'cadê a cantoria? não vai dar bom dia? não vai cantar o bom dia?'. E eram os dias que eu não tava muito bem e eu não me sentia à vontade de mandar um áudio de bom dia. E aí numa dessas ela disse 'você não vai me mandar bom dia? Porque você é uma cantora'. Na mesma hora ela se corrigiu, no mesmo instante que ela ia me chamar de cantora ela já, ela nem finalizou a palavra, ela já se corrigiu. Eu cheguei em casa e escutei no alto-falante do som e mostrei pra todo mundo assim, várias vezes. Porque esse foi o primeiro degrau que ela subiu. Foi simbólico. Ela ainda permanece errando? Permanece errando, mas foi simbólica essa subida de degrau.

E aí recentemente ela disse que quer vir me visitar em 2022. E eu disse 'olha, então a senhora vai ter que mudar um pouquinho as suas atitudes. Por que não condiz mais com a minha realidade e nem com as pessoas com quem eu moro. A senhora vai ter que parar de me chamar no nome que não existe mais, a senhora vai ter que parar de usar um pronome masculino. E ela 'então eu vou praí e vou ficar calada, vou ficar na minha então' e eu falei 'não não não, a senhora não vai ficar calada, a senhora vai ser a senhora, só que a senhora vai cuidar disso. Não vou trazer a senhora pra minha casa, pro meu conforto, pra senhora me desestabilizar emocionalmente na frente dos meus amigos'. Como que eu vou apresentar alguém e ela cagar no rolê? De jeito nenhum. E eu sei que são processos, então ela tem até 2022 para repensar sobre os conceitos de quem eu sou para ela e de quem eu tenho que ser pra ela. 




Eu tenho um prazo. E obviamente que eu não estabeleci um prazo pra ela quando eu comecei. Quando eu fiquei uma semana no interior de Goiás, quando eu tinha perdido a minha casa, o meu trabalho, antes de vir pra cá. Foi uma semana crucial eu ter ficado no Alto Paraíso porque foi a primeira vez na minha vida que eu tive uma conexão comigo mesma, no interior, sem amigos, sem telefone, sem minha mãe, sem nada, nada, nada. Eu tava com pessoas desconhecidas, ajudando numa construção de uma casa de Yoga e veganismo. Outras pessoas, de outros estados. E foi importante pra mim porque eu comecei a ter noção de quem eu realmente sou e não tem pra onde fugir. Ou essas pessoas aceitam ou essas pessoas não aceitam e que vá viver a vidinha delas lá no canto delas e não venham tirar a minha paz. E se for a minha mãe, é do mesmo jeito, isso não vai mudar. Eu cortei total o meu cordão umbilical com ela, eu não tenho mais nenhum laço com a minha mãe, eu não sinto saudade da minha mãe. É estranho. Às vezes eu até me pergunto 'meu deus, porque eu não sinto saudade da minha mãe?', eu não sinto saudade dela, eu não tenho vontade de ligar pra ela, eu não tenho vontade de mandar mensagem pra ela. Não que eu tenha mágoa. Eu não tenho nenhuma mágoa, nenhuma.

Então neste momento que eu tava no interior eu dei um tempo pra ela, eu fiquei um mês sem conversar com ela. E quando eu voltei do interior pra cidade, ela me ligou, a gente conversou. E eu disse pra ela 'a senhora precisava desse tempo, esse tempo era necessário pra senhora. Porque eu tive o meu tempo pra entender quem eu sou e a senhora vai ter o seu tempo pra entender quem sou pra senhora'. Então esse tempo ainda está correndo, só que quando ela vir pra cá esse tempo vai ter que ter um prazo. Porque é ela e as minhas irmãs que vão estar vindo pra cá. E eu não quero trazer a minha família pra cá pra me desestabilizar emocionalmente pra depois que elas forem embora eu sentar e chorar como nunca chorei. Não quero. Então sim eu sou uma virginiana que se torna um tanto chata por ser exatamente isso, sabe. É ou não. Eu não gosto de pessoas em cima do muro, eu não gosto de pessoas indecisas.






E houve um fato que me deixou muito triste, que me deixa triste ainda, em saber que a minha irmã se casou e eu não fui nem convidada pra cerimônia do casamento no cartório e nem pra festa. A minha mãe que me convidou pra festa e eu não fui porque eu não queria deixar ela numa situação constrangedora perante os convidados. Então eu não fui, não fui no casamento. Então a gente não teve esse contato de irmãs que a gente teve quando ela era mais nova e eu tava ali nesse processo de pré-adolescência, sabe, a gente ainda era mais unidas. Hoje não.

E é estranho, porque a percepção que eu tenho é que eu tenho essa família, mas a percepção que eu também tenho é que eu não tenho essa família sabe. E aí caí por terra o quanto sozinha eu estou, eu sei que a minha mãe está comigo, que tá me ajudando, enfim. Mas que parece muito superficial, sabe, tendo esse corpo que eu tenho hoje, tendo essa mente que eu tenho hoje. Parece que é muito superficial.









Parar de buscar referências cisgêneras,
nós vamos buscar referências travestis.
Que é essa a nossa referência,
que é essa a nossa realidade.
Eu não quero um corpo cisgênero.














O Jardel foi a peça predominante pra eu ser quem eu sou. Porque ele me deu um apoio, um suporte inexplicável. Mas também, obviamente, a contrapartida nisso, pela vivência que ele tem, de ter sido expulso de casa tão novo por ser simplesmente gay, a vivência de uma pessoa preta. Então ele tem uma sensibilidade muito grande em relação a isso e essa sensibilidade que fez com que eu me mantivesse tão firme e tão viva, pra ser bem sincera. Em alguns momentos eu falei sobre suicídio e ele foi uma das pessoas que não permitiu e nem permite, sabe. Então agora ele vindo morar aqui ele deixa muito claro isso, 'você não pode fazer nenhuma besteira porque eu não tenho estabilidade'. E eu digo a mesma coisa pra ele, que eu não tenho estabilidade pra isso. E eu considero ele o meu único melhor amigo gay porque foi uma pessoa que eu nunca precisei pegar na mão pra ser didática, eu nunca precisei chamar no cantinho pra poder dizer o que tava errado ou não. E porque me parece que ele soube lidar com isso tão mais simples do que eu mesma, tão fácil, sabe, tão tranquilo assim. Até em me defender, em me exaltar, em tentar me entender em questões minhas mesmo, de vivência. Mas que é isso, a gente tem uma irmandade muito grande e eu tenho muito ele como um membro da minha família. Eu tenho ele como um irmão que deus não me deu, minha mãe não me deu, mas que a vida me deu. E o quanto a gente se une muito nisso, sabe, de se apoiar, de eu ser uma pessoa trans e ele ser uma pessoa preta no meio de uma sociedade tão opressora e que mata tanto esses corpos todo santo dia.





Eu demorei muito pra poder me assumir. A minha mãe sempre foi o tipo de pessoa que nada que eu fizesse, tanto de cabelo, de vestimenta, de trejeitos ou o círculo de pessoas que eu tinha, tava bom pra ela. Se eu trocava de corte ou de cor, pra ela não tava bom, não tava bonito. De roupa não tava bonito. Pessoas gays com quem eu andava: não tá bom. Nada estava agradando ela. Então isso sempre pra mim foi um fator muito frustrante e decepcionante. Porque nada tava satisfazendo.

Eu contei pra ela em São Paulo quando ela foi me visitar no final do ano. Eu contei um dia antes. Eu planejei tudo: eu vou contar pra ela no dia que ela for embora, porque se ela tiver um infarto ela vai ter um infarto dentro do ônibus e eu não vou estar com essa preocupação dentro da minha cabeça. E aí eu contei pra ela, ela disse 'ai fulano, você que escolhe' - 'Não, não. Eu não escolhi isso, eu jamais ia escolher isso. Eu jamais ia escolher estar numa situação e ver a senhora desse jeito. Eu nasci assim. E pessoas como eu. Somos iguais'. Eu fui pro trabalho, a minha tia disse que ela ficou o dia inteiro trancada no quarto assim, bem mal. Eu cheguei de noite do trabalho e ela tava bem sensibilizada mesmo. Aí no outro dia ela foi embora, então como ela lidou com isso não sei. Não sei, não sei, não sei. E não me afeta também como ela lidou com isso. Que a gente precisa entender que as nossas vidas, a partir do momento que a gente sai do útero da nossa mãe, ela já não é mais delas, é nossa. E somos nós responsáveis por isso.






Eu fiz dança por quase dois anos. Fiz dois semestres só, porque nesse meio do segundo semestre eu entrei no teatro Infantil. Então também foi uma outra descoberta minha, que eu sempre quis fazer teatro e nunca tive oportunidade. E eu tenho dança como hobby, eu não tenho dança como profissão. Se bem que agora eu estou começando a analisar algumas coisas em relação a isso. Eu saí da dança porque eu via que eu estava tirando a vaga de pessoas que queriam trabalhar com isso, que trabalham com isso, que vivem da arte. E viver da arte é saber que não vai ter um retorno tão estrondoso como a gente vê na televisão e nas redes sociais. Obviamente que também foi um trabalho árduo dessas pessoas pra chegarem aonde estão hoje tendo esse reconhecimento. Mas que é triste. Então eu vendo a minha melhor amiga - e tenho ela até como mãe -, a Vanessa Voskelis, que trabalha com dança, vive de dança. E o marido dela, o Adriel Vinícius que é um cantor, que também vive da música e da arte no centro-oeste. Não fazia sentido pra mim eu estar fazendo um curso em que não trazia nenhuma realidade pra mim ali, tão explícita ao ponto de entender que 'nossa, estou fazendo esse curso porque eu quero um diploma, um mestrado, doutorado, o caralho a 4 pra eu continuar vivendo disso, ganhando mais e sendo reconhecida'. Então eu saí por conta disso.





Sou apaixonada em música, ouço pra tudo, pra acordar, pra dormir, pra transar, pra comer, pra beber, pra tomar banho, pra pegar sol. Pra ir na esquina do mercadinho ali na gruta só pra poder comprar um pãozinho eu vou com o meu fone de ouvido que só tá funcionando de um lado - que eu estou só humilhação com o meu celular (risos). Estou com um celular que tá só a tristeza, os botões nas laterais não funciona nenhum, eu tenho que estar usando um brinco às vezes pra poder desbloquear ou pra aumentar o volume, né. Áudio mesmo eu não to escutando. É só o fone de ouvido mesmo.

Então eu sou apaixonada por música, sou apaixonada por dança, por dançar, por me expressar. Eu tenho um feeling muito bom pra dança. Pra ouvir a música, pra sentar e escutar a música, ou sofrer nela, ou sentir ou expressar a minha alegria ou a raiva, aí eu ouço a letra. Agora, pra dançar eu escuto a batida, eu sinto a batida, eu sinto a vibe da música, o que ela tá querendo dizer pra mim, o que ela representa. Então eu sou apaixonada por música e por dança. Sou apaixonada por comer, talvez seja o meu lado taurino (risos). Eu amo comer, meu pai do céu. Eu acho que eu sempre gostei muito de comer. E é o comer que está fazendo essa desenvoltura toda no meu corpo, antes de mais nada. É um pouco de gordura localizada, de tanto hormônio que estou tacando e não estou me exercitando, mas é a comida que está me ajudando. Gosto de cozinhar, mas não pra mim, tipo. Se estou sozinha aqui em casa e estou com todos os ingredientes eu não vou conseguir fazer um almoço só pra mim, que não tem graça comer sozinha. Esse prazer não é o mesmo do que eu fazer um prato pra você, sabe.






Talvez eu seja apaixonada em pessoas… Literalmente. Pessoas em geral. Obviamente que eu estou trabalhando toda a minha concepção de pessoas né. Porque eu fui e eu sou uma pessoa que sempre me 'relacionei', porque isso não era relação, isso é doar o teu corpo pra alguém que não merece. Então eu doei o meu corpo pra pessoas que não mereciam e daí na grande maioria eram pessoas hetero cisgêneras e que na grande maioria foi decepcionante e frustrante. Então eu comecei, de dois anos pra cá, quando eu descobri que a Isa, que até então quando eu a conheci era uma faggot e eu não sabia que ela estava num processo de transição. E nem sabia que ela estava namorando com um cara trans. Quando eu soube disso, quando eu vim pra cá, 'meu deus, a minha amiga é muito desconstruída cara, meu pai do céu'. Porque a visão que eu tinha dela era só uma faggot pegando pessoas cisgêneras. E quando eu soube eu falei caralho, caralho, que sensibilidade, que descontrução, que visão, que privilégio, sabe, e que paz que deve ser também.
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Eu comecei a trabalhar na minha cabeça sobre o mal da sociedade, que é o falocentrismo. Que é a genitália em primeiro lugar, e não o que eu represento como pessoa e como ser humano ou como eu represento a mulher incrível que eu posso ser pra qualquer pessoa. Então eu estou trabalhando nisso, em relação a genitália, o quão isso não é importante pra mim. Isso não é importante pra mim porque eu não sou importante pra essas pessoas tendo essa genitália ou não. Então eu também tenho que mudar este pensamento e essa cultura. E comecei a olhar com outros olhos pros homens trans. Comecei a olhar pras pessoas com outros olhos. Não me considero uma pessoa bissexual. Não me considero uma pessoa pansexual. Sou uma pessoa hetero ainda? Talvez, maybe. Mas que eu não quero tá rotulando sabe, tipo 'estou ficando com fulano e ele é uma pessoa trans, a gente vai ter um relacionamento heteronormativo, porque seria basicamente o que a sociedade tá vendo, uma mina e um mano'. Não quero rotular isso. E se eu começar a ter um relacionamento com uma pessoa gay que tá se desconstruindo eu ainda não vou mudar esse rótulo de que essa pessoa deixou de ser gay e se tornou um homem hétero. Não. As coisas não são assim, não é simples assim. A gente não abandona quem a gente é porque a gente tá vivendo com outro ser que é diferente da gente. Não. A gente se adapta a essa pessoa. A gente se adapta a essa realidade. E não precisa largar rótulos. Não precisa largar o teu rótulo tão nomeado de gay, então continua sendo uma gay que namora com uma travesti.








Eu comecei a usar o N***, usava comprimidos e eu tinha notado que parecia que o comprimido não tava me dando efeito, trazendo resultados, sabe. Mesmo eu sabendo que esse era um processo lento e que ia ser tudo de uma maneira cautelosa, que não é da noite pro dia que o bico do peito vai ser estufado pra fora ou enfim. E aí eu comecei a usar o N***, usei por um bom tempo. Talvez eu tenha notado que tenha começado a criar uma gordurinha nas mamas, mas levemente, sabe. Nada demais. E até então eu não tava tomando bloqueador, era só N***. E aí conheci a minha amiga Ariel Peluz, ela estava começando o processo de transição dela e ela fez todo o procedimento no endócrino e tal. Ela começou a usar o comprimido e logo depois começou a utilizar o P***. E aí isso foi o boom pra mim, eu falei 'não, eu preciso largar o comprimido, porque eu não estou vendo nenhum resultado visível pra mim'. E aí eu larguei o comprimido e comecei a me injetar. Não sozinha, porque eu tenho medo de fazer esse tipo de coisa sozinha. E aí eu comecei a perceber, a primeira coisa que começou a mudar sinceramente falando foi emocionalmente. Eu tava muito bem. Eu tava muito bem comigo mesma. Fazia tempo que, nossa, fazia tempo que eu não chorava, porque eu sou muito chorona, eu sou muito sentimental. Fazia tempo que eu não chorava e aí eu comecei a usar o P*** e meu pai do céu, eu comecei a entrar numa montanha russa sem fim. De lidar com emoções que eu não tava lidando antes. De o quanto tava triplicando ou quadruplicando, enfim. O quanto estava mexendo muito com a minha cabeça, eu 'gente pelo amor de deus, eu vou enlouquecer'. E eu comecei a ver as coisas com mais sensibilidade, mas com muito mais sensibilidade. E isso foi a primeira coisa que mudou em mim, né, foi mental mesmo, emocional. 

Quando começou a crescer a mama, quando tava visualmente alguma coisa, tipo um caroço de feijão, que tava ali, já começando a querer dizer alguma coisa, eu tava começando a ficar extremamente feliz com isso, sabe, 'meu é isso mesmo, era isso que eu tava querendo há um bom tempo já'. E eu fui percebendo que o meu corpo tava mudando, que a minha mente tava mudando mais ainda. Eu tava me tornando mais sensível e mais expressiva. Eu sou um tipo de pessoa que sou muito sincera. Se eu gosto, eu gosto, se eu não gosto, não gosto. E isso começou a ser bem mais aflorado. E aí eu comecei a ser notada como palestrinha, mimizenta, como vitimista, como agressiva. E aí então com esses processos de hormonização eu vi que tava tendo uma grande mudança, tanto em mente, corpo e espírito.



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Morando com essas faggots, eu sentia muito que eu não era vista literalmente como uma mulher, sabe, por mais que eles dissessem, mas parecia que aquilo era da boca pra fora. E aí quando os hormônios começaram a fazer parte disso daí eles começaram a utilizar a palavra que eu acho abominável nos tempos de hoje e nos tempos que sempre foram tempos: chamar a mulher de louca. Principalmente quando ela está se medicando. E principalmente quando é algo que está relacionado ao próprio ser dela. Isso me irritava profundamente. Ah, de louca, que agora era o hormônio. Então começaram a colocar a culpa no hormônio. E isso já tava me deixando puta da vida. Porque eu sempre fui assim. Os hormônios só estavam talvez elevando quem eu já sou. Então isso começou pra eles a ser um problema. Um problema em que eles não iam conseguir segurar. E obviamente que não vão me segurar. Aliás, vocês não vão me segurar. Não tem porque me segurar. Eu não sou daqui, porque vocês vão querer me segurar? E eu não sou sua. Então eu percebi essas mudanças no círculo de amizades e que aí eu fui vendo 'meu deus eu preciso realmente mudar agora o meu círculo. É essencial.






Tem algo que eu venho me questionando muito. Eu já me perguntava isso há muito tempo atrás. Mas sobre a solidão. A solidão da mulher trans e de como a gente é vista por essas pessoas, sabe, afetivamente falando. E de como isso não é levado a sério, a gente não é levado a sério. A gente é simplesmente um coito, é simplesmente um corpo. E de como essa doação que a gente tem, como o mínimo - que a gente acaba ganhando o mínimo, como uma migalha - e a gente acaba aceitando isso de uma maneira como se fosse tudo, mas é melhor ter migalha do que não ter nada. Porque o nada dói. A migalha ainda faz com que a gente de uma certa forma se conforme e depois se revolte. Mas deixar claro pros homens em si, independente de ser hetero ou gay. Do quanto eles precisam urgentemente se desconstruir como seres humanos e como eles têm a obrigação de apagar a palavra genitália pra ontem. Porque só assim eles vão ter sucesso e um relacionamento saudável, quando eles perceberem que a genitália não é nada comparada com a vivência daquela pessoa, com a realidade daquela pessoa, do quão aquela pessoa pode te transformar e te mudar num lado positivo. E como você vai ser privilegiado por ser alguém e se tornar alguém em que em momento algum você imaginou que pudesse ser.









As vezes que eu pensei em suicídio eu não tinha levado a sério sobre a importância da comunidade T estar viva e estar unida e ter um suporte. Isso caiu sobre terras, caiu essa realidade pra mim quando o Demétrio se matou. Eu tinha ele nas redes sociais, no twitter e no Instagram e me recordo que antes disso acontecer ele já tinha postado algo do tipo, sobre suicídio. E daí quando eu recebo essa mensagem na rede social de que ele tinha morrido, naquele dia em si o meu mundo tinha acabado. Eu chorei por dois dias, eu fiquei muito, muito, muito triste.

E aí eu vejo o quão a gente é importante pra nós mesmos. O quanto a gente é importante pra nossa comunidade. O quanto a gente é importante pra sociedade mesmo que ela não queira a gente. Porque quando nós decidimos nos matar, a gente esquece que a gente vai dar um gatilho pra todo o resto da comunidade T. E a gente esquece o quão a gente é referência pra essas pessoas e o quão essas pessoas são referências pra nós. E que isso deve ser o fator que tem que ser predominante pra nossa sobrevivência neste mundo. Quando eu penso em me matar, quando eu penso na morte, eu não penso em como isso vai reverberar na minha família. Eu não penso em como isso vai reverberar pros meus amigos cisgêneros. Eu penso em como isso vai reverberar pras pessoas trans. Como essas pessoas vão receber essa notícia num dia ensolarado, numa manhã de uma quinta-feira fazendo 30ºC e do nada você acorda, abre a tua rede social e vê essa notícia como a primeira notícia do teu feed. Isso é tão esmagador. E é algo que acaba tanto com a gente naquele dia que a gente não tem nem força pra continuar a viver aquele dia em si.

Eu sinto uma vontade imensa de poder abraçar a mãe do Demétrio e de abraçar a mãe de tantas outras pessoas T que morreram ao longo desse nosso trajeto de vida, desse nosso trajeto de corpo trans no meio dessa sociedade tão nojenta. Como eu queria ter essa oportunidade de abraçar e dizer 'nossa, vocês foram uns pais sensacionais. Vocês foram incríveis pra construção da família e do ser que tava ali. Não se culpe jamais pelo que vocês não fizeram. Se culpem pelo que vocês não podem fazer daqui em diante, porque agora faz mais sentido ainda viver e lutar pra nós e por nós. Então quando você que estiver escutando ou você que estiver lendo isso em algum momento, que estiver pensando sobre tirar a sua vida, pense na do coleguinha T que está do teu lado ou que te vê como referência, ou que vê teus stories, que curte, que te cumprimenta, que sorri, te elogia, que te exalta. Pense nessas pessoas T, o quão elas vão ficar devastadas, desoladas, sem ter a referência ali do lado. Não desista, porque nós somos potência. Nós somos expansividade. Nós somos o verdadeiro amor, real, puro e saudável e verdadeiro que nos foi concebido. E que foi nos tirado porque ninguém quer ver esse amor tão verdadeiro e sincero.





Sophie Ferreira.
1993.

Virginiana com Asc em Touro e Lua em Escorpião.
Nordestina.
Apaixonada por música, séries, dança, amigos e um bom café. Nada melhor que estar rodeada por pessoas que te respeitam e que te amam, o resto a gente segue respeitando, mas não se envolvendo.

Mulher travesti.
E
la/dela.

@sophynatrans

*ensaio realizado em Porto Alegre (RS) em dezembro de 2020.  
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Esse projeto é feito por mim, Gabz. Sou uma pessoa trans não-binária e busco não só retratar mas também abrir um espaço onde outras pessoas trans possam contar suas histórias, pra dar suporte pra nossa própria comunidade. Depois de muito sofrer com a carência de referências de narrativas trans que me contemplassem percebi que essas pessoas existem e sempre existiram, porém por motivos CIStêmicos as poucas vezes que temos oportunidade de contar quem somos acaba sendo através da lente de pessoas que não sabem como é a nossa vivência. Comecei esse projeto por urgência.
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